top of page

Nenhum Credo, senão a Bíblia?

  • John Piper
  • Oct 3, 2017
  • 5 min read

Uma ouvinte do podcast, Lauren Balozian, escreve para perguntar sobre cristianismo confessional: “Caro Pastor John, sou fã do seu podcast. Minha pergunta é esta: você subscreve a Confissão de Fé Batista de 1689? Se não, por quê? E, em geral, quais são seus pensamentos sobre o movimento confessional e afins?”

Bem, antes de me posicionar acerca da Confissão Batista de 1689, apenas alguns pensamentos gerais, encorajadores e esperançosos sobre o cristianismo confessional:

Por cristianismo confessional, tenho em mente aquele cristianismo que é unificado em torno de uma confissão de fé escrita, e no seu melhor, é o melhor tipo de cristianismo. Em outras palavras, todas as outras coisas sendo iguais é algo bom para unir o povo em torno de um resumo escrito da verdade bíblica.

Quatro razões vêm à mente:

1) Paulo, quando se despediu dos anciãos em Éfeso, declarou: “ estou limpo do sangue de todos , porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (Atos 20: 26–27 ). A frase “todo o conselho de Deus” aponta para algum tipo de resumo unificado da verdade bíblica essencial. E Paulo disse a Timóteo em outro lugar da mesma forma: “Guarda o depósito confiado a ti” (1 Timóteo 6:20). Então, existe algum tipo de depósito apostólico que é entregue para que você possa guardar e entregar — algum tipo de corpo da verdade unificada. Vemos o mesmo em Romanos 6:17. Paulo disse: “ viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues”.

2) Sem um resumo escrito da verdade bíblica, tendemos a ser vagos sobre o que acreditamos. Algumas pessoas pensam que evitar confissões de fé é algo que proporciona maior unidade cristã, porque escrever as coisas exige precisão, clareza e perspicuidade e todos aqueles argumentos e desentendimentos precipitados.

Mas a alternativa proposta é obscurecer essas discordâncias sob uma nuvem de imprecisão, e o efeito dessa chamada unidade é que constantemente depende de manter distante a clareza da verdade. Você não pode vê-la com precisão de perto, então é deixada para o final quando as aplicações e decisões cruciais devem ser feitas com base na verdade; foi mantida obscura durante todo tempo e agora não temos como aplicá-la em casos cruciais.

3) O slogan “Nenhum credo, senão a Bíblia”, oculta o fato de que, em quase todos os grupos, declarações bíblicas cruciais serão devidamente compreendidas por alguns e incompreendidas por outros. Nesses casos, é ingênuo dizer que a Bíblia nos une. Pode não estar nos unindo. Pode ser um manto vago para a desunião significativa. E isso não honra as Escrituras.

Foi uma grande instrução para mim quando fiz um estudo em Atanásio e percebi que, nos debates que teve com Ário, ambos afirmavam a autoridade da Escritura e ambos os lados fizeram extensas citações da Bíblia. Dessa maneira, o “Nenhum credo, senão a Bíblia”, nesse caso, seria usado para cobrir o fato de que a negação da deidade de Cristo não importa. E alguém tem que se levantar e dizer: não é o que a Bíblia ensina.

4) Os resumos confessionais da verdade bíblica realmente nos ajudam na nossa fé, porque penso que a fé prospera na profunda e verdadeira doutrina que é trazida das Escrituras, devidamente resumida, aplicada à vida das pessoas, nas nossas almas, nossas famílias, nossas igrejas, até mesmo na sociedade. Essa verdade clara e doutrinária é saudável para a vida e para a obediência a Jesus.

Eu sei que sempre haverá abusos farisaicos da doutrina, da verdade bíblica, que as transformarão num veículo de orgulho e abuso contra o povo de Deus. Mas esses tipos de abuso da verdade não devem nos impedir de fazer o uso correto da verdade, que é tratá-la como gravetos lançados sobre o fogo do nosso amor por Deus e pelas pessoas. Foi assim que funcionou na minha vida ao longo dos anos; de alguma maneira, esse ensinamento doutrinário claro e fiel tem sido um meio inflamado para a minha fé e meu amor por Deus e pelas pessoas. Então, sim, sou a favor de igrejas e escolas e ministérios que são definidos por fortes afirmações de fé.

Um dos efeitos práticos que isto teve sobre mim ocorreu aproximadamente depois de 15 anos de serviço na Bethlehem Baptist Church. Os presbíteros, com meu encorajamento, trabalharam por quatro ou cinco anos até ao ponto de compor e concordar com a Declaração de Fé de Presbítero da Bethlehem Baptist Church. E essa declaração de fé agora governa a igreja e o desingGod.org e o Bethlehem College and Seminary.

Há vantagens e desvantagens de compor uma nova afirmação de fé. Eu percebo seus perigos. O grande perigo é que podemos estar na moda ou sermos idiossincráticos ou seletivos, com base em nossas próprias preferências. A vantagem é que ela pode ser expressa em linguagem mais compreensível, e pode lidar com questões e termos que enfrentamos hoje e que precisam ser tratados de forma doutrinária e ética. Sendo assim, tentamos muito não estar na moda ou sermos idiossincráticos, ademais, tentamos enviar a declaração de fé durante seu processo de criação a líderes cristãos em todo o país para obter um feedback. Então, essa foi a nossa abordagem.

Agora, aqui está a questão com a Confissão de Fé Batista de 1689. Eu não escolhi seguir por esse caminho, apesar de ser uma boa e sólida versão Batista Reformada da Confissão de Westminster. E há vários motivos para isso. Aqui estão eles:

1) O idioma é um pouco estranho. Seu vocabulário é como ler a versão King James. E acho que provavelmente é um erro tentar consagrar isso hoje, se você espera que as famílias vão usá-la sem qualquer forma atualizada.

2) Embora eu possa afirmar que Gênesis 1 se refere a dias literais de 24 horas, porém tenho dificuldade em pensar que deveria fazer disso uma questão de fidelidade confessional ao cristianismo, e então eu tropecei nessa seção.

3) A compreensão do Sábado é, talvez, mais rigorosa e estreita do que a minha compreensão das implicações do ensinamento de Jesus sobre o Sábado.

4) Existem certas categorias históricas da teologia, como a aliança das obras e outras, que se mostraram úteis, mas você pode se perguntar: Será que eu deveria trazer essa estrutura de teologia para os nossos dias?

5) Isso vai soar muito trivial — no entanto, você não pode fazer uma confissão incluindo pequenas coisas como dizer que pão e vinho são prescritos na Ceia do Senhor. Em nenhum lugar do Novo Testamento é dito que o vinho foi usado na Ceia do Senhor. Isso é um choque para muitas pessoas. O Novo Testamente não diz o que foi usado.

Agora, eu suspeito que era vinho. Eu suspeito que era vinho, mas o texto sempre usa o termo “copo” ou “fruta da videira” e, portanto, se você entrar numa batalha e disser que vamos resolver isso confessionalmente, e então vai para a confissão de 1689, onde diz que o vinho é o que você deveria usar. E eu direi: Bem, isso não é bíblico, porque isso não é o que a Bíblia diz, mesmo que isso seja totalmente legítimo e talvez até preferível, mas não é exigido.

Assim, eu acho que a Confissão de Fé de 1689 é uma expressão gloriosa e maravilhosamente fiel da verdade bíblica. Conheço e tenho comunhão com pessoas que amam essa doutrina. Mas há pequenas coisas, como as que foram mencionadas aqui, que são suficientes para me levar a dizer: acho que, provavelmente, para nós, gostaríamos de seguir noutra direção.

Mas meu ponto principal que quero dizer e deixar para a Lauren é: eu acho que as declarações de fé são muito importantes e que as igrejas não devem se afastar delas, mas devem trabalhar pacientemente ao longo do tempo no sentido de uma expressão unificada da fé bíblica em favor da preservação, da vitalidade e da missão da igreja.

Um amável amém por isso! Posso perceber os e-mails acumulando-se já na caixa de entrada sobre as questões da “criação”, o “Sábado” e a questão do “vinho”

Oh, meu Deus, o que eu fiz?

Tradução: Evandro Junior.

Disponível em http://www.desiringgod.org

 
 
 

Comentarios


Artigos em Destaque
Recentes
Tags
Segue-nos
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
bottom of page