Uma Esperança Inabalável - Meditações no Salmo 16
- Joel Lopes
- May 17, 2017
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David escreve um salmo repleto de contentamento e esperança. Este é um salmo que quem lê atentamente, com um coração aberto, vê luz, muita luz, ainda que esteja rodeado e inundado de escuridão.
1. O Senhor é o meu refúgio (vs. 1-2)
Protege-me, ó Deus, porque em ti me refugio.
Digo ao SENHOR: Tu és o meu Senhor; além de ti não tenho outro bem.
David começa o Salmo por pedir proteção a Deus. David sabia desta responsabilidade de proteger o objeto do seu cuidado, primeiro as suas ovelhas, quando fora pastor, e agora como soberano de uma nação. Como rei no entanto David sabe-se sob o poder de alguém mais forte que ele, Deus, por isso é a Iavé que David dirige a sua súplica de proteção. David afirma que se encontra refúgio, segurança, conforto em Deus.
O salmista sabe que só Deus pode lhe proporcionar tudo o que ele precisa. David reconhece que nada na sua vida é tão precioso, tão valioso, tão digno quanto o Senhor. David diz não ter outro bem além de Deus.
O Salmo 16 é um salmo de esperança e esperança só existe quando se coloca o olhar em algo inabalável que sustente as nossas forças no meio da nossa realidade sombria, tenebrosa e sofredora. O que podemos encontrar de mais inabalável e seguro do que Deus?
a. Esperança na proteção e refúgio do Senhor
David tem esperança porque se refugia no Senhor, porque encontra proteção nele. No meio do turbulento mar, da noite de escuridão palpável, dos impetuosos ventos, das chuvas que rasgam a alma, das angústia que sangram o coração não há porto seguro humano que dê esperança! Tudo são luzes tênues, ilusórias, miragens enganosas! Apenas um farol, que não sucumba à violência das tempestades, que mantenha a sua luz serena, inalterável, imutável, permanente poderá dar esperança a um barco todo quebrado e ferido como nós. Este farol só pode ser a Luz do mundo, Jesus Cristo. Foi nesse refúgio que David se abrigou, foi esse farol que David perseguiu toda a sua vida.
Quem é o nosso farol? Em que muralhas nos refugiamos? Atrás de concepções humanas, em sonhos, família, carreira, governo, pastor, habilidades pessoais, experiência de vida? Tudo isso são muralhas de areia. Procure refúgio na única rocha que é Cristo. Ele é a rocha sobre a qual pode colocar constantemente a sua esperança!
b. Esperança no bem mais precioso
Normalmente esperamos nas coisas que mais valorizamos, como tesouros que nos fazem permanecer na luta e sofrer todos os danos, a razão pela qual vale a pena lutar, olhamos para elas com a luz no fundo do túnel, agarramo-las como a âncora da esperança. Uma vez mais, podemos ter tesouros que nos ajudam momentaneamente, mas nenhum é irresistível à ferrugem e à traça das mais fortes dores e frustrações da vida. Só há um tesouro que não se deixa corroer por nada, que de facto compensa, que ninguém tira, ninguém rouba, ninguém destrói, o único bem que de facto alguém pode possuir: o Senhor! Ter o Senhor como maior tesouro é ter a verdadeira esperança nesta vida!
2. Os santos são o meu prazer (vs. 3-4)
3. Quanto aos escolhidos que estão na terra, são os ilustres nos quais está todo o meu prazer.
4. Os que escolhem outros deuses terão as dores multiplicadas; não oferecerei seus sacrifícios de sangue, nem meus lábios pronunciarão seu nome.
Além de ter prazer no Senhor, o salmista encontra prazer nos escolhidos de Deus. Já aqueles que escolhem outros deuses irão sofrer consequências, e David afirma que nunca se juntará a eles nos seus atos de adoração a esses deuses e que nem sequer pronunciará o seu nome.
A esperança cristã é alimentada na comunidade. Esta ideia enche as páginas das Escrituras. Não há coisa mais dolorosa e doente do que caminhar sozinho. Não há coisa mais perigosa e insensata do que caminhar sozinho. Não há coisa mais egoísta e menos bíblica do que andar sozinho. Deus escolheu um povo, elegeu a igreja, formou um corpo, construiu uma casa onde Cristo é a pedra angular.
Cada crente é precioso aos olhos de Deus, é seu filho ou filha, não devia ser diferente para cada um de nós. Cada elemento do povo de Deus deve ser precioso para nós, neles devemos encontrar prazer.
Quantas vezes temos mais prazer naqueles que não querem olhar para Deus? Procuremos caminhar com aqueles que querem Cristo, aqueles que não têm outro bem maior além do Senhor, aqueles que consagram completamente as suas vidas ao único Deus verdadeiro. Caminhar com estes é alimentar esperança. Caminhar com pessoas cuja esperança é Cristo é assegurar-nos que no caminho teremos quem nos ajude a limpar as nossas feridas, quem nos ajude a levantar dos nossos tombos, quem nos ajude a corrigir comportamentos e atitudes.
Caminhar com pessoas sem esperança é abrir os nossos corações ao gelo que apagará a chama da nossa esperança em Deus.
Quem são as pessoas em quem tem prazer? Diz-me com quem andas e eu dir-te-ei em quem está a tua esperança.
3. A herança agradável (vs. 5-6)
5. SENHOR, tu és a porção da minha herança e do meu cálice; és tu quem garante o meu destino.
6. Meu quinhão caiu em lugares agradáveis; sim, fiquei com uma bela herança.
Para David a porção da sua herança é o Senhor, assim como o seu cálice. Porquê? Porque é o Senhor que dá garantias do seu destino, do seu caminhar e do seu alvo de chegada. David afirma que ficou com uma bela herança, uma porção agradável.
Os termos, porção, herança, quinhão, lembram a distribuição das terras quando o povo entrou na terra prometida. A tribo de Levi não ficou com uma porção dessa terra, porque o Senhor seria a sua herança, eles cuidariam da vida religiosa de Israel, seriam sustentados pelo resto do povo, eles estariam a serviço do Senhor.
David afirma que a sua herança é o Senhor, que Deus é a sua propriedade, não um pedaço de terra, e que o Senhor é o que lhe dá prazer, não os frutos e bens da terra. Que o Senhor é o que agrada a sua alma, que lhe dá contentamento.
Existe uma música cuja letra a determinado momento fala que quando se perde é que se ganha. Quando tudo o que achávamos ter valor nos é tirado, ou está na iminência de nos ser tirado, é que percebemos que a única herança que de facto temos e que ninguém nos pode tirar é Deus. É nesse solo que a esperança é semeada e começa a florescer e a frutificar.
Enquanto acharmos que a nossa porção, a nossa herança, o nosso deleite são as coisas passageiras desta vida a nossa esperança é abalável, é frágil, é pequena, é sujeita à temporalidade dessas mesmas coisas. A nossa porção, a nossa alegria nunca se achará em dinheiro, numa profissão, em saúde, em amizades, em ministérios até, mas somente naquele que não pode nos ser tirado, o único que pode trazer contentamento à alma.
Qual é a nossa herança? Qual o nosso quinhão? Ao percebermos que se o Senhor e o Seu Reino é o que receberemos como herança então a chama da nossa esperança será alimentada por um combustível inextinguível!
4. Conselhos do Senhor (vs. 7-8)
7. Bendigo o SENHOR que me aconselha, pois até durante a noite meu coração me ensina.
8. Sempre tenho o SENHOR diante de mim; não serei abalado, porque ele está ao meu lado direito.
David louva o Senhor pela instrução que recebe. David diz que até de noite aprende. David medita no Senhor e na sua lei de dia e de noite, como ele diz no versículo 8, sempre coloca o Senhor diante dele. O salmista intencionalmente vira a sua atenção, a sua mente para Deus, daí vem a sua aprendizagem constante, porque está sempre a meditar no Senhor e na sua lei. Tendo o Senhor à sua direita nunca será abalado, o Senhor é o seu conselheiro, é a Lei de Deus que o instrui.
Outro combustível para a esperança cristã é a aprendizagem constante das sagradas Escrituras. São os conselhos do Senhor que sempre nos relembram quem somos, quem Ele é, para onde vamos, o que nos rodeia, o que é importante, o que está errado em nós, onde podemos encontrar consolo, o que temos deixar, o que temos de perseguir, o que temos de amar, como temos de viver, etc. Buscar intencionalmente o Senhor diariamente e continuamente é ter o foco correto, é manter os olhos no que dá esperança. São as promessas de Deus, os seus atributos, os seus valores que nos alimentam a cada dia a esperança!
5. Alegre esperança (vs. 9-11)
9. Por isso, meu coração se alegra e meu espírito se regozija; até mesmo meu corpo habitará seguro.
10. Pois não deixarás a minha vida no túmulo, nem permitirás que teu santo sofra deterioração.
11. Tu me farás conhecer o caminho da vida; na tua presença há plenitude de alegria; à tua direita há eterno prazer.
É pelo facto de saber que o Senhor está com ele e que nunca será abalado que o salmista se alegra grandemente. Essa segurança não é só para o seu espírito, mas para o seu corpo também. David tem certeza de que não ficará no túmulo, que a morte não o dominará, mas que estará na presença do Senhor por toda a eternidade.
David sabe que na presença de Deus há alegria completa, prazer que não tem fim. Este é o tamanho da esperança de David!
Só uma esperança assim pode dar segura guarida a uma alma fortemente e impiedosamente rechaçada pela implacabilidade do sofrimento, do pecado e da morte!
O nosso coração deve encontrar grande alegria nesta esperança, de que nem a morte nos travará. O que está reservado ao cristão é vida eterna, porque estará na presença de Deus para todo o sempre, e nessa presença ele contemplará alegria completa, prazer eterno.
Nesta vida nunca experimentamos alegria completa, ela sempre é manchada pelo nosso pecado, pelo pecado dos outros, pelos sofrimentos, pelas tentações do inimigo das nossas almas. O nosso prazer aqui não é eterno, não é ininterrupto.
Isto porquê? Porque não conseguimos estar, pela nossa velha natureza e pelas condicionantes que nos limitam na presença do Senhor 24h por dia e de forma plena e total. Mas quando o pecado for totalmente destruído, e a morte totalmente destituída do seu poder então aí poderemos estar na presença de Deus para todo o sempre e aí sim, saborearemos prazer eterno, alegria completa, cheia, inteira!
Agarremo-nos a estas promessas, a estas certezas, a este farol cuja luz não se apaga, cujo edifício não se deixa destruir, e naveguemos rumo ao consumador e autor da nossa fé, no meio de todas as lutas, tribulações, falhas, temores, doenças, e problemas.
“Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre atuantes na obra do Senhor, sabendo que nele o vosso trabalho não é inútil.” (1 Co 15.55-58)
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