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Sinceridade e Certeza da Salvação

  • Tim Challies
  • Oct 26, 2016
  • 5 min read

Se eu te fosse perguntar: “Como sabes que és cristão?”, como responderias? Para onde

olhas para ter a certeza da tua salvação? Olhas para dentro de ti mesmo? Olhas para o

passado - talvez para um ato ou decisão que fizeste? No passado escrevi escrevi sobre a

doutrina da segurança da salvação, uma crença que John MacArthur corretamente chama “o direito de nascimento e privilégio de todo o crente em Cristo”. Hoje eu quero ligar este

assunto a um outro tópico que também me preocupa. Estou a falar de “Regeneração decisional”, um termo que descreve muito do que entendemos como conversão no mundo

evangélico moderno.

Antes de nos virarmos para a “regeneração decisional” precisamos primeiro definir o que é regeneração. J.I. Packer define regeneração como “…a mudança espiritual forjada no coração do homem pelo Espírito Santo em que a sua natureza pecaminosa inerente é mudada de maneira a que consiga responder a Deus em Fé e viver de acordo com a Sua

vontade (Mt 19.28; Jo 3.3,5,7; Tt 3.5). É uma re-criação interior de uma natureza humana

caída pela ação da graça soberana do Espírito Santo (Jo 3.5-8). Esta mudança é atribuída

pelo Espírito Santo. Não começa no homem mas sim em Deus (Jo 1.12, 13; Jo 2.29; 5.1, 4). Estende-se a toda a natureza do homem, mudando a sua disposição de governo, iluminando a sua mente, libertando a sua vontade e renovando a sua natureza.” A regeneração, de forma simples, é a acção do Espírito em que Ele dá ao homem uma nova natureza que liberta a sua vontade e lhe dá uma disposição inclinada para Deus. Esta definição é completamente Reformada, e portanto completamente Bíblica.

Uma pesquisa da doutrina Cristã iria encontrar três perspetivas sobre quando acontece

a regeneração. Reparem que cada tradição terá uma definição ligeiramente diferente do

termo.

A primeira é conhecida como regeneração batismal. A tradição Católica romana, bem

como a Anglicana, e grupos Luteranos, crêem que a regeneração acontece no momento do batismo. Quando uma criança é batizada, o Espírito Santo regenera imediatamente essa pessoa. O Catecismo Católico tipifica esta perspetiva: “O Batismo não só purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito “uma nova criatura”, um filho adotado de Deus, que se tornou “participante da natureza divina”, membro de Cristo e co-herdeiro com ele, e templo do Espírito Santo (Pg. 354, #1265). Esta perspetiva tem sido considerada falsa pela maioria dos Protestantes que crêem que contradiz o ensino claro das Escrituras.

A segunda perspetiva é a de que o Espírito Santo regenera a pessoa no momento da

escolha de Deus. Chamamos a isso de “regeneração monergística”, para indicar que depende unicamente de Deus. Esta regeneração não depende do homem nem de qualquer desejo ou decisão da sua parte. O Espírito Santo move-se na pessoa, dando-lhe uma nova natureza e permitindo-lhe ter a capacidade de expressar fé e um desejo de conhecer e confiar em Deus. Esta perspetiva é intimamente associada com o Calvinismo e a fé Reformada e com a sua visão elevada da soberania de Deus.

A terceira perspetiva é aquela com a qual estamos preocupados e enfatiza a decisão, daí

o termo regeneração decisional. Esta perspetiva, adicionada tardiamente ao cristianismo foi popularizada por Charles Finney e é agora a perspectiva da maioria do mundo evangélico. Neste ponto de vista o homem tem sido convencido pelo Espírito até ao ponto em que agora é capaz de ter fé em Deus e depois expressa essa fé através de uma decisão de seguir o Senhor. Quando ele toma esta decisão é imediatamente regenerado. Enquanto que a decisão é interna, é normalmente expressa através de uma oração, uma acção física como levantar a mão ou caminhar até ao altar ou até mesmo algo mais simples como preencher um cartão da decisão.

Jay Adams escreve “A grande diferença teológica entra o evangelismo moderno e o

evangelismo bíblico depende desta questão básica sobre se a verdadeira religião é trabalho de Deus ou do homem. Na melhor das hipóteses, a doutrina da regeneração decisional atribui o novo nascimento parcialmente ao homem e parcialmente a Deus”. Quando Deus e o homem cooperam na salvação, torna-se importante apelar às emoções e decisões humanas e para garantir uma resposta humana para aquilo que a Bíblia diz que é o trabalho de Deus. Permitimos que o homem faça o papel de Deus e decida a sua própria salvação. O homem permite que o Espírito entre no seu coração através de um ato de decisão ao invés de acreditar que o Espírito faz o trabalho independentemente da vontade do homem. A regeneração deicional, então, suprime o ensino de que só Deus está ativo na salvação, em dar vida, e de que o homem sem Deus está totalmente perdido.

O risco que corremos em dizer às pessoas que elas foram salvas depois de terem

preenchido um cartão ou terem levantado a mão, é que sabemos apenas que elas tomaram algum tipo de decisão. Esta decisão pode ter sido sincera e bem intencionada, mas não indica necessariamente que o Espírito regenerou essa pessoa. O legado de Charles Finney na história da igreja é claramente de falhanço, criou multidões de pessoas que acreditaram que eram cristãs, mas a maioria delas não mostrou nenhuma evidência. Foi-lhes dado certezas de salvação através da sua decisão a qual poderiam olhar como um marco nas suas vidas, mas enquanto levantavam as suas mãos e não tinham dúvidas de terem sido sinceros quando o fizeram, não se voltaram para Cristo. Porque não o fizeram? Porque o Espírito não fez qualquer trabalho e eles eram, então, não regenerados. Eles tentaram fazer-se a si mesmos crentes, uma tarefa que só pode ser feita por Deus. O mesmo problema prevalece nos dias de hoje. Quando dizemos a alguém que a sua decisão é um indicador da sua salvação, podemos estar a passar uma falsa esperança. Podemos estar a dar uma segurança que não nos cabe dar. A realidade bíblica é que Deus dá a salvação a quem Ele deseja. “Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer.” (Jo 5.21).

No passado eu focava o sinal externo da crença de uma pessoa como manifestação de

que tinha sido salva, fosse esse sinal o preenchimento de um cartão ou o levantar da mão. Recentemente tenho ficado preocupado com outra faceta das conversões evangélicas. Enquanto tenho lutado com isto por algum tempo, um website que visitei ontem levou-me a escrever sobre isto. Para continuar a minha pesquisa num tópico, sobre o qual escreverei em breve visitei o site raptureletter.com e reparei numa carta em que o site contém que exorta as pessoas a se voltarem para o Senhor. O ponto alto da mesma é: “Pai, eu admito que sou pecador, eu vou deixar de pecar e fazer o bem. Eu creio que Jesus é o teu filho e que Ele veio à terra para morrer por mim para que os meus pecados sejam perdoados. Peço-te que me perdoes e me arrependerei dos meus pecados. No nome de Jesus, eu oro.” O autor do site escreve então: “Se fizeste esta oração e foste sincero de todo o coração, então Deus vai olhar para ti como um dos Seus filhos.”

O que me abalou nessa carta, que é o conteúdo típico de um apelo evangélico (e, na

verdade, já ouvi inúmeros apelos como este) é que existe um requisito claramente inegável da parte do homem para a salvação. A oração só se torna efetiva, podemos reparar, se a pessoa a fez de todo o coração.

Agora, enquanto que todos os Protestantes afirmam, pelo menos em teoria, que a salvação é inteiramente um ato de Deus, tem de se admitir que num apelo destes para a

salvação é adicionado um requisito humano: sinceridade.

Assim regresso à questão com a qual abri este artigo. Quando procuras por certeza da

salvação, para onde olhas? Será que vais refugiar-te na sinceridade da tua oração? Será que vais procurar conforto para ti mesmo dizendo: “eu fiz a oração de todo o coração”? Se

procurares refúgio na tua sinceridade ou nas emoções que sentiste há anos atrás quando

fizeste a oração, estás a construir a certeza da tua salvação num terreno movediço. Eu vou continuar esta discussão amanhã com algumas sugestões em como podemos construir a certeza da salvação nas verdades sólidas da Palavra de Deus.

 
 
 

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