Quando não temos um testemunho dramático de conversão
- Stephen Altrogge
- Nov 19, 2015
- 4 min read

Todos gostam de ouvir um testemunho de conversão à antiga, intenso, que consegue roubar dos ouvintes um “glória!”.
Você sabe de que tipo de testemunho estou a falar. O homem que foi membro de um perigoso gang, traficante de droga, e um assassino da máfia antes de encontrar Jesus. Ou a mulher que cresceu num lar cristão, depois envolveu-se em drogas, engravidou, juntou-se a um gang de motoqueiros e então converteu-se. Ou o ateu profundamente convicto que foi até ao fundo do poço, teve uma espécie de crise existencial e então encontrou Jesus no lugar menos provável.
Todo o bom testemunho envolve encontrar Jesus no lugar menos provável, talvez num centro de sem-abrigos, ou numa plantação de bananas, ou numa pista de bowling. Todo o bom testemunho envolve uma avó que orou todos os dias ou uma mãe que nunca deixou de ter esperança. Um testemunho incrível incluirá uma fuga da polícia e/ou bater num cristão que partilhou o Evangelho.
Quando você não é essa pessoa
Mas muitos de nós não temos um testemunho particularmente emocionante. Eu cresci num lar cristão com um pai e uma mãe incríveis. O meu pai lia-nos a Bíblia todas as manhãs antes do pequeno-almoço. Eu fui aquele que ganhou o concurso bíblico na Escola Dominical. Nunca estive nas drogas. Nunca fiz sexo antes do casamento. Nunca andei com más companhias. Nunca cumpri pena num centro de detenção juvenil. Nunca me envolvi em lutas (embora uma vez tentei me envolver com um rapaz bem mais pequeno que me estava a aborrecer, mas isso é outra história).
Eu não fui um rapaz cheio de raiva que ouvia “Rage Against the Machine” nem usava o símbolo da anarquia nos meus ténis “All Star”. Eu ouvia dcTalk e Michael W. Smith (“Secret Ambition” era uma das melhores canções cristãs de todos os tempos). A minha infância e juventude foram relativamente livres de situações dramáticas.
Salvo do Sexo e das Drogas - Aos 6 anos de idade
À medida que fui crescendo e interagindo com mais pessoas, apercebi-me o quão abençoado é o facto de não ter um testemunho interessante. Vejam, aqui reside a questão: testemunhos não acontecem no vazio. É espantoso quando Deus salva uma pessoa de uma vida de sexo, drogas e rock ’n roll, e gosto imenso de ouvir as pessoas a contar esse tipo de histórias. Mas as consequências do pecado não desaparecem de um momento para outro quando Jesus entra nessas vidas. Todos carregamos bagagens do nosso passado para onde quer que vamos.
Ex-viciados em drogas ainda têm de lidar com todas as tentações, desejos e problemas de saúde que fazem parte desse vício. Aqueles que dormiram com múltiplos parceiros carregam memórias e emoções desses mesmos parceiros para a cama no seu casamento. Ex-membros de gangs têm de se cruzar face a face com as pessoas que mal-trataram. Mulheres que fizeram abortos carregam esse peso por toda a sua vida.
Não estou a dizer de forma alguma que sou melhor do que alguém que cometeu muitos pecados flagrantes. Eu preciso de Jesus tal como qualquer outra pessoa. Os fariseus e as prostitutas precisavam desesperadamente de Jesus de igual maneira. Crianças de gueto e filhos de pastor estão no mesmo nível diante de Jesus.
O que estou a querer dizer é que sou agradecido porque Deus me salvou quando eu era novo. Sou agradecido porque Deus me poupou de pecados mais flagrantes e visíveis. Sou agradecido porque não tenho de lidar diariamente com consequências de certos pecados do passado. Sou agradecido porque a minha relação com a minha esposa não é estragada por memórias de relacionamentos do passado. Sou agradecido por não ter de contar aos meus filhos todas as coisas horríveis que fiz antes de Deus me salvar.
Agradecido por Deus lhe ter poupado
A coisa maravilhosa acerca de Jesus é que ele salva todo o tipo de pessoas. Ele salva o rico e o pobre, o popular e o marginalizado, o advogado e o derrotado. Jesus não mostra favoritismo no momento de dar a Sua graça.
O meu pai foi filho do movimento dos anos 60, do amor livre e das drogas livres. Eu sou filho de ensino doméstico e do movimento evangélico dos anos 90. O meu pai queria ser como os Beatles e como o Jimi Hendrix. Eu queria ser como os “Audio Adrenaline” e como o Toby Mac. O meu pai fumou o seu quinhão de drogas. Eu fumei o meu quinhão de cigarros de chocolate. E ainda assim, Deus salvou-nos aos dois. Deus trabalha segundo a economia da graça, não do mérito.
Não fique decepcionado por não ter um testemunho emocionante. Não se sinta como se tivesse perdido alguma coisa. Vai contar a sua história diante de uma grande audiência? Provavelmente não. Mas isso é algo bom. Seja grato a Deus por lhe ter poupado de consequências que causam estragos ao coração e à alma, fruto de determinados pecados. Seja agradecido por Deus o ter salvado antes de você ter tido oportunidade de destruir a sua vida. Seja agradecido a Deus pelo facto de não carregar anos de bagagem consigo.
Agora, se me dão licença, tenho de encontrar um cinzeiro para este cigarro de chocolate.
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