Só a Fé - Rogério Ramos
- Joel Bueche Lopes
- Nov 3, 2014
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A reforma protestante trouxe o homem de volta às Escrituras Sagradas. Questões pertinentes foram novamente debatidas. O assunto a que se refere este artigo – “Sola Fide” (somente a fé), está bem desenvolvido quer nos evangelhos, quer nas epístolas, ora de Paulo, ora de Tiago.
Tiago escreve – “...a fé por si mesma é morta, se não tiver obras. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me tua fé sem obras, e eu te mostrarei minha fé por meio de minhas obras.” (Tg 2:17-18). Uma má interpretação dos textos de Tiago levou a que muitos julgassem que a Fé não é suficiente para termos o favor de Deus. É necessário, dizem eles, adicionar algo mais para se conseguir alguma segurança quanto à garantia da salvação. Surgiu então a ideia, que quiseram inculcar no coração das pessoas, que se torna necessário a obediência à lei, os sacramentos e a igreja para, de alguma forma, se conseguir a certeza da salvação. A justificação dos nossos pecados necessita de algo mais. Na sua identificação com a igreja, com os sacramentos e com a lei podemos ver algo dessa mesma justificação.
Tiago, porém, não vem, de forma alguma contradizer Paulo; ele apenas lança mais luz sobre o assunto, na tentativa de combater aqueles que pensavam que, uma vez salvos, não importa o seu comportamento, o seu relacionamento, a sua ética. O que Tiago nos diz é que a fé, a verdadeira fé, a fé em Jesus Cristo transforma a vida daquele que crê, do interior para o exterior, e que esses resultados são obras que Deus previamente preparou para que andássemos nelas. Paulo diz em Efésios 2:8-10 – “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se orgulhe. Pois fomos feitos por ele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, previamente preparadas por Deus para que andássemos nelas.”
Somente a Fé.
A salvação é adquirida somente pela fé. A fé é o único instrumento para a salvação, e como Paulo nos diz em Efésios 2:8 (Tito 1:1; Atos 13:48), essa mesma fé não vem de nós, é dom de Deus.
Nenhuma obra de sacrifício, ou penitência, ou caridade pode trazer perdão de pecados. Foi neste contexto bem vivido no século 16 pela igreja romana que Martinho Lutero surge, com as suas 95 teses.
Dr. J. V. Fesko diz o seguinte –“Quando Martinho Lutero pregou suas Noventa e Cinco Teses na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, em 1517, demorou algum tempo para que as implicações da sua ação reverberassem ao longo da história. O fruto de seu trabalho emergiu em algumas confissões luteranas e reformadas, as quais afirmaram que os pecadores são declarados justos aos olhos de Deus, não com base em suas próprias boas obras, mas somente pela fé, somente em Cristo e pela graça de Deus somente - sola fide, solus Christus e sola gratia. A Igreja Católica Romana foi compelida a responder, e o fez no famoso Concílio de Trento, quando realizou uma série de pronunciamentos sobre a doutrina da justificação em sua sexta sessão, em 13 de janeiro de 1547.
Dentre os muitos pontos que Roma apresentou, vários deles reivindicações-chave, os principais foram:
1 - que os pecadores são justificados pelo seu batismo,
2 - que a justificação é pela fé em Cristo e pelas boas obras de uma pessoa,
3 - que os pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada de Jesus Cristo;
4 - que uma pessoa pode perder sua posição de justificação. Todos esses pontos se fundem na seguinte declaração:
Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema. (Canon IX)” (1)
Tentar adicionar algo ao que Deus estabeleceu é declarar que a salvação não vem unicamente de Deus (“Olhai para mim sereis salvos” – Isaías 45:22); é declarar que Deus e o homem completam-se no processo necessário à salvação; é como olhar para Deus e para si próprio, e em si próprio o homem encontrar bondade e obras suficientes para contribuir para a salvação da sua alma, juntamente com a oferta de Cristo. O homem adiciona a Cristo às suas obras. As obras dos homens são na verdade uma ofensa ao Deus santo, porque por melhor que elas sejam, elas são feitas pelo homem, que é pecador. Os nosso atos de justiça são para Deus trapos de imundice (Isaías 64:6). Nossas boas obras são incapazes de conquistar qualquer mérito diante de Deus. Arrependimento e Fé em Jesus Cristo são os passos para Salvação. E tanto um como outro são um dom de Deus (Rm 2:4; At 5:31, 11:28; 2 Tm. 2:24,25, Ef 2:8).
Neste últimos dois séculos XX e XXI, o homem conseguiu dar um salto bem maior na interpretação da salvação da sua alma. Vivemos num mundo ausente de absolutos. Dizer que há um só caminho, uma só verdade e um só que nos pode dar vida não é aceitável, nem tão pouco razoável.
O sentir, exclui a fé racional e verdadeira. O que eu sinto é que é importante. Sou eu que defino os termos para a salvação. Desde que eu creia em algo, creia que exista um Deus, não interessa a fé exclusiva na pessoa e obra de Jesus Cristo.
Então a fé além de não ser exclusivamente o meio que nos traz a Deus, a fé deixa mesmo de existir na sua essência verdadeira. Agora ela já não faz parte de uma só verdade. Desde que eu me sinta bem nesta igreja, com uma ideia de Deus muito personalizada, desde logo estou salvo.
E se alguém afirma ser uma pessoa de fé, é uma fé construída por sentimento. Ela existe de alguma maneira, mas é uma fé que difere de pessoa para pessoa. Acrescente-se ainda que crêem em diferentes coisas, sendo todas elas, na sua óptica, verdades.
É necessário que a igreja cristã desperte para esta realidade. Precisamos ver as igrejas voltando para a Fonte, as Escrituras. E assim como Lutero, Calvino, Spurgeon e outros mais viveram suas vidas pela pureza das Escrituras. O cristianismo do séc. XXI precisa de uma revolução no seu âmago. Precisamos de fazer uma revolução no cristianismo de hoje.
Não podemos deixar que as igrejas que se dizem cristãs continuem a colocar Cristo em segundo plano. Cristo precisa voltar a ser a figura única e central em todas as coisas.
Em 1647, um grupo de pastores e teólogos reformados reunidos na Abadia de Westminster, em Londres, elaboraram uma Confissão de Fé. Na pergunta nº 33 do Breve Catecismo, ele afirmaram unanimemente o que é a justificação dizendo:
“O que é a justificação? Justificação é um ato da livre graça de Deus, através da qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de si, somente pela justiça de Cristo a nós imputada e recebida pela fé somente.”
Este foi um grande passo, mas envolveu sacrifícios. A verdade sempre envolverá sacrifícios.
Que a igreja de hoje possa sacrificar-se pela verdade, e a verdade é – Somente a Fé, SOLA FIDE, em Jesus Cristo nos justificará perante Deus. Somente Cristo é suficiente para que possamos ser salvos; nada mais precisa de ser adicionado. Ele fez tudo por nós. “A base da justificação é A OBRA DE CRISTO e O MEIO da justificação é a FÉ EM CRISTO” (2).
A Deus toda a glória.
Pr. Rogério Ramos
FESKO, Dr. J. V., Tabletalk Magazine, “Faith Alone”, Ligoneir Ministries.
STEELE, David S. e THOMAS, Curtis C., “ A justificação pela Fé” - Extraído do Livro “Romanos, um bosquejo explicativo”. Fonte: Jornal “OS PURITANOS”
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