Só as Escrituras - Samuel Quimputo
- Joel Bueche Lopes
- Oct 31, 2014
- 3 min read
A Reforma Protestante do séc. XVI foi um marco incontornável e um ponto de viragem na trajetória da História da Igreja Cristã.
Embora houvesse, antes desse momento, vozes dissonantes que expressavam o seu descontentamento relativamente ao rumo trilhado pela Igreja institucional (e dominante), foi realmente a atitude destemida de Martinho Lutero (1483-1546) que deu visibilidade ao protesto, rompendo com grilhões de séculos de rigidez eclesiástica e de iliteracia bíblica gritante, que escravizou, e de que maneira, milhões de seguidores bem-intencionados do Cristo Redentor.
Tudo ganhou “vida” quando o monge alemão, no dia 31 de outubro de 1517, depois de um período de críticas abertas contra a teologia das indulgências, em seus sermões, enfrentou a liderança papal da cristandade ocidental e afixou na entrada da Catedral (ou Castelo) de Wittemberg as 95 proposições (ou teses) (seguindo o costume da universidade).
Essas teses, entre outras coisas, denunciavam a heresia de que as indulgências pudessem eliminar a culpa do pecado, heresia essa que induziria o doador a uma falsa segurança da sua salvação.
A Reforma Protestante ficou convencionalmente conhecida e categorizada pelos “Cinco Solas da Reforma”, visto que estas verdades “resgatadas dos escombros” de um sincretismo religioso estabeleciam a base sobre a qual toda a estrutura teológica e eclesiástica seria construída.Os “Cinco Solas” acabam por resumir as linhas mestras pelas quais a teologia reformada seria sustentada.
Falando daquele que ficou conhecido como o segundo “sola”, o “Sola Scriptura”, este destaca o papel e a preponderância das Escrituras Sagradas no estabelecimento de parâmetros doutrinários e na regulação de toda a espiritualidade cristã em matéria de fé e de conduta piedosa.
“Sola Scriptura” era um convite de retorno às origens daquilo que caraterizou a vida da Igreja Cristã desde os tempos apostólicos. Com esse lema em mente, os reformadores não pretendiam reavaliar as doutrinas bíblicas, nem mesmo tentar adaptar a Igreja às exigências culturais daquele período da História ou adequá-la aos parâmetros das “verdades” reinantes na sociedade da qual faziam parte; antes pelo contrário, queriam que tudo (ou quase tudo) que estava a caraterizar a igreja daquele tempo, distanciando-a do claro ensino do Senhor Jesus e dos apóstolos, devia ser reformado e passado pelo crivo das Escrituras.
“Sola Scriptura” traduzia o ardente e urgente desejo de reavaliar a própria Igreja à luz da Palavra de Deus, a fim de encontrar (ou reencontrar) nela a sua verdadeira identidade.
Ao destacarem o papel singular das Escrituras no estabelecimento das “balizas” dentro das quais a vida piedosa devia ser vivida, os reformadores procuraram levar a Igreja, à deriva, de volta às bases que a edificaram, isto é, ao autêntico e autorizado ensino do Senhor Jesus, o Verbo divino.
Neste momento em que se comemoram os 497 anos da Reforma, em que a História nos conclama a nos recordarmos da valente e destemida atitude dos reformadores no confronto travado (com sérios riscos para si e para os seus), é mister termos em vista a realidade de que, em qualquer época (incluindo a nossa), a Igreja militante, para garantir a sua ortodoxia apostólica e vitalidade cristã, deve fazer uma constante autoavaliação, a fim de identificar a proximidade ou a distância que a separa do seguro e bem consistente ensino das Escrituras, visto que só elas constituem o padrão (τυποσ, typos ou modelo) pelo qual toda a questão de fé e de vivência piedosa é avaliada.
Que o Senhor da Igreja, aquele que deu a sua vida por ela, e que pela sua maravilhosa graça nos outorgou a Bíblia, a “carta do Seu amor” e a revelação do Seu magno plano de salvação, nos dê força e determinação para, com ousadia, e seguindo o exemplo dos corajosos reformadores, proclamarmos a suficiência do texto sagrado no conhecimento da vontade do nosso bom Pai, na assunção de uma cidadania ativa e equilibrada, na prática de uma vida piedosa que emana graça e na evangelização de um mundo à deriva e em crise de identidade.
Soli Deo Gloria!
Pr. Samuel Quimputo
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